Entrevista ao culturista Luís Veiga

Este mês falámos com o Luís Veiga, um jovem culturista de apenas 24 anos mas já com muito para contar. O Luís é actualmente um dos nomes mais promissores do culturismo português, não fosse o facto de ser treinado pelo célebre Ramon Gonzalez, um dos grandes nomes europeus do culturismo.

Conhece a história do Luís Veiga, assim como os seus planos para o futuro. Podem seguir o Luís na sua página de facebook.


1) Fala-nos um pouco de ti, do teu interesse pela musculação e do teu percurso enquanto competidor.

O meu nome é Luís Veiga, nasci a 11 de Setembro de 1989 em Bragança, cidade onde cresci e onde resido actualmente. A nível académico sou licenciado em Engenharia Biomédica e falta-me entregar uma tese para ser Mestre em Biomedicina Molecular, algo que penso terminar posteriormente, uma vez que actualmente estou a fazer um estágio profissional na minha área de licenciatura.

O meu interesse pela musculação surgiu de forma quase acidental, uma vez que quando comecei a praticar o objectivo era outro. Jogava futebol, modalidade que pratiquei até aos meus 17 anos nas camadas jovens do Grupo Desportivo de Bragança, altura em que resolvi procurar um ginásio para ganhar um pouco de estrutura para poder continuar a jogar, pois na altura pesava cerca de 59 kg quase com a altura que tenho agora 1,80m!

Depois de começar com a musculação começou a nascer o bichinho que foi crescendo e crescendo e não deixou espaço para o futebol. Foquei-me apenas na musculação e no culturismo, mais tarde. Inicialmente tive uma pessoa que me ajudou bastante, por me ensinar a treinar correctamente, a executar os movimentos corretamente, mas a nível de preparação de atletas para competir as coisas não são tão lineares e nem toda a gente tem a capacidade para o fazer.

Mesmo assim ainda fiz duas competições, em que hoje olho para trás e vejo que foi muito precipitado, pois houve muitos erros, muitas falhas. Mas mesmo assim, e talvez por nesses anos o nível não ter sido tão alto como actualmente, fiquei como 3ºclassificado do Campeonato Nacional de Iniciados na categoria de Júniores de Culturismo Clássico em Novembro de 2010. Depois, em Abril de 2011 consegui a mesma 3ª posição no Campeonato Regional Norte e Campeonato Nacional, também na categoria de Júnior de Culturismo Clássico. Foi depois destas provas que decidi seguir outro caminho a nível desportivo.

Depois disso tive outra pessoa que me ajudou e me ensinou muita coisa, mas infelizmente as coisas não se proporcionaram para competir em 2012, ano em que conheci o meu actual preparador e amigo Ramon Gonzalez. Começamos o trabalho conjunto em Julho de 2012 com o objectivo de competir em 2013 no Regional e Nacional!

E assim foi, o ano 2013 correu melhor do que eu algum dia poderia imaginar e sagrei-me Campeão Regional Norte 2013 na categoria +85 kg, Campeão Absoluto do Regional Norte 2013, Campeão Nacional 2013 na categoria até 85 kg, Vice-Campeão Absoluto do Nacional 2013 (sendo que num 1ºround deu empate entre mim e o atleta que viria a ganhar esta prova) e ganhei ainda o I Open Ibérico Cidade de Castelo Branco 2013!

Confesso que nunca pensei que isto seria possível num espaço de tempo tão curto a trabalhar com Ramon Gonzalez, mas quem o conhece sabe que com ele não há impossíveis.


2) Que planos tens para o futuro próximo?

Os planos para este ano eram grandes. Estava tudo preparado para fazer a estreia internacional e ir a mais do que uma prova além fronteiras… Embora eu não goste de revelar cedo os objectivos para as temporadas que se avizinham, mas estava tornado público que iria competir no Arnold Classic 2013 e a partir daí veríamos o que seria possível no resto da época desportiva.

Infelizmente uma grave lesão que contraí a 9 de Março deste ano roubou-me a possibilidade de competir este ano e cumprir os objectivos a que me tinha proposto junto do meu preparador e dos meus patrocinadores, a Myprotein. Tratou-se de uma rutura muscular no peitoral, perto da inserção com o deltóide, com uma dimensão de 3,3×1,7cm.

A lesão roubou-me literalmente 10 semanas, conseguia treinar perna com o braço ao peito e todas as limitações a que isso implica, mas só há cerca de 2 semanas consegui começar a treinar full body novamente.

Aproveito ainda para agradecer à equipa Myprotein por todo apoio e incentivo que me têm dado ao longo desta caminhada difícil de recuperação, bem como a compreensão por este ano não poder competir como “atleta Myprotein”.


3) És actualmente treinado pelo espanhol Ramon Gonzalez, um nome que dispensa apresentações no culturismo. Que significado isto tem para ti?

É um orgulho e um privilégio enorme trabalhar com uma pessoa assim. Apesar de dispensar apresentações é um homem de uma humildade extrema, amigo e como preparador então os resultados falam por si. Conhece-me “apenas” desde Maio de 2012 e começámos a trabalhar em Julho de 2012 e posso assegurar que conhece melhor o meu corpo ele do que eu próprio!

Posso ainda dizer que a primeira vez que ele me viu, no ínicio do nosso trabalho conjunto disse-me com todas as letras que iria ser campeão nacional no ano 2013. Algo impensável para mim na altura, mas a verdade é que cumpriu o que me prometeu!

Ao mesmo tempo é uma grande responsabilidade ser preparado por este senhor, pois se eu não der tudo de mim e se as coisas não correrem bem, o nome dele também está em causa. E isso é um fardo que eu não posso nem quero carregar, e talvez por isso tenha sido uma das minhas motivações durante a minha preparação no ano passado!


4) Quais as principais dificuldades que destacas no teu percurso no culturismo?

Inicialmente, as dificuldades prendem-se com o aprender a comer, porque treinar com maior ou menor esforço toda a gente consegue, tendo vontade para isso. Agora comer como deve de ser, nas quantidades que precisamos, nas horas definidas, uma rotina diária de comer quase sempre os mesmos alimentos… isso não está ao alcance de todos e essa é a principal dificuldade de quem inicia ou tenta iniciar este estilo de vida. Eu consegui, e hoje em dia não é uma dificuldade, mas sim um prazer!

Outras das grandes dificuldades que ainda permanece actualmente prende-se muito com o factor monetário! É um desporto muito caro… Ou melhor, um estilo de vida muito caro. Confesso que no ano 2013 resolvi não competir no Arnold Classic por dois motivos. Um foi porque não tinha condições financeiras que me garantiam a preparação na totalidade e parar a meio ou perto do final por este motivo seria frustrante.

O outro foi porque também não achei que seria viável ir ao Arnold logo no meu primeiro ano de sénior, mesmo tendo conquistado o que conquistei. Penso que é preciso ser prudente e não ir só para se dizer que se vai, eu não gosto de ir a nenhuma sabendo que é só para ser “mais um”.

Outra dificuldade é a nível de apoios/patrocínios. Tenho o da Myprotein que é uma grande ajuda a nível de suplementos, mas davam jeitos outros, a nível alimentar por exemplo.

No entanto compreendo que não seja fácil. Além de Portugal ser um país onde o culturismo não tem muita visibilidade, existe também o facto de eu ser ainda um atleta jovem com um currículo curto e que está a iniciar-se e a dar-se a conhecer recentemente. Talvez daqui a uns anos, com um currículo maior e melhor as coisas possam melhorar neste aspecto, cá dentro ou lá fora.


5) Quais os nomes do culturismo nacional e internacional que te servem de inspiração?

A minha maior inspiração é sem dúvida o Ramon Gonzalez! Por tudo o que conseguiu antes e depois do acidente de viação que sofreu. Além de ser um atleta exemplar com uma qualidade soberba em palco, deu também uma lição de vida que a mim me tem servido de inspiração também durante esta recuperação da lesão.

Caiu bem lá para o fundo, mas levantou-se e voltou lá para cima de onde nunca devia ter saído. E fica a pergunta: “Onde estaria Ramon Gonzalez hoje se não tivesse tido aquele acidente?”

A nível nacional gostava bastante do Zé Maria, da condição fantástica com que se apresentava em palco e da simetria e proporcionalidade. Por outro lado, o que mais admiro actualmente por ainda se manter em actividade e por tudo que conquistou já enquanto Master é o Carlos Rebolo, por quem tenho um enorme respeito.


6) Em que consiste a tua alimentação diária? Podes dar-nos um exemplo de um dia-tipo?

Come sempre o mais limpo possível, seja em off ou em on season, é essa a regra base que estabeleci junto do meu preparador. Certamente se não o fizesse poderia atingir outro peso em off, mas não vejo a vantagem de atingir, por exemplo, 130kg e depois ir competir com 80/85kg como acontece com alguns atletas nacionais.

Se comer limpo, além da dificuldade inerente a uma fase de pré-competição ficar mais reduzida, os ganhos conseguidos serão mais reais e o peso perdido em pré-competição será logicamente menor.

Actualmente faço 8 refeições diárias, sendo uma delas líquida. Baseia-se em arroz, carne branca, carne vermelha, peixe magro, claras de ovo e 1/2 gemas diárias. Utilizo ainda manteiga de amendoim, nozes e whey protein.


7) Praticas dias-de-lixo? Que achas deste conceito?

Não, não utilizo. Pontualmente poderei fazer uma refeição lixo, mas nunca um dia inteiro. Não sinto falta e não acho benéfico. E uma refeição lixo não tem 3000 ou 4000kcal como vejo por vezes na net, parece-me uma autêntica barbaridade.


8) Podes dar-nos uma visão geral sobre o teu plano e metodos de treino?

Treino 6 vezes por semana, divido os grupos musculares e repito os mais fracos mais do que uma vez por semana. Gosto de treinar na base de reps mais altas, no entanto faço períodos de reps altas e outros de em que não subo das 15 mas também não desço das 8. Logicamente varia e adequa-se às diferentes fases da época desportiva, off e on season.


9) Quais são os teus exercícios preferidos?

Agachamento sem sombra de dúvidas é o meu preferido. Mas de forma geral gosto de todos, os que não gostava aprendi a gostar… Como costumo dizer: “Não é para gostar, é para fazer!”


10) Consideras os suplementos essenciais para quem pratica musculação?

Lógico que sim. Não conseguimos tirar da alimentação tudo o que necessitamos e por vezes no período de tempo que necessitamos. Actualmente utilizo tudo da Myprotein, pois além de fazer parte da equipa, na minha opinião são suplementos de fiabilidade incomparável, qualidade, preço, variedade.

Utilizo diariamente multivitamínico, ómega 3 6 9, Impact Whey Protein, Carbarley, Beta-alanina, BCAA, Glutamina e enzimas digestivas quando o off começa a apertar.


11) Podes deixar algumas dicas de treino para todos aqueles que estão a começar ou que têm dificuldade em ver os resultados que gostariam?

Acho que essencialmente as pessoas devem aprender a treinar, procurar alguém que de facto as possa ajudar. Porque há muita gente a frequentar ginásios e a movimentar pesos mas poucas a treinar, no real sentido da palavra.

Depois é o que costumo dizer às pessoas que me procuram, é preciso ter calma, persistência e muita paciência pois este não é um desporto de pressas. Procurem ajuda, aprendam a treinar e a comer e os resultados vão aparecer certamente, pois ninguém nasceu ensinado e ninguém nunca vai saber tudo… estamos em constante aprendizagem!

Autor: Ta Fitness

O Tá Fitness nasceu em 2012. É um portal dedicado ao exercício físico, à alimentação e ao bem-estar.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *