Arginina aumenta a hormona de crescimento? O que dizem os estudos?

Quem pratica exercício físico com vista à melhoria da composição corporal, certamente já ouviu falar do papel da hormona de crescimento para o crescimento muscular. A hormona de crescimento (GH) desempenha um papel fundamental no crescimento dos tecidos, na composição corporal, na reparação celular e no aumento da combustão de gordura (1), (2), (3), (4), (5), (6).

Ela também aumenta os níveis de outra hormona anabólica chamada de factor de crescimento semelhante à insulina tipo-1 (IGF-1), cuja principal função é promover o aumento dos vários tecidos do corpo, incluindo o tecido muscular.

Como tal, é fácil perceber que níveis elevados de hormona de crescimento são fundamentais de forma a promover o crescimento e o aumento da força musculares, assim como para ter uma melhor performance desportiva.

No final dos anos 60, alguns estudos demonstraram que a infusão com arginina estimulou a secreção da hormona de crescimento (7), (8), (9). No final dos anos 90, um trabalho científico descobriu que isto deve-se à supressão da hormona somatostatina, uma hormona que inibe a produção da hormona do crescimento (10).

Devido a isto, muitos indivíduos que praticam musculação com vista ao aumento da massa muscular consomem arginina com o propósito de verem os seus níveis de hormona de crescimento aumentados. No entanto, os estudos científicos que avaliaram o impacto do consumo oral de arginina nos níveis de hormona de crescimento têm demonstrado resultados contraditórios.

Neste vídeo falo sobre os efeitos da suplementação com arginina nos níveis de hormona de crescimento:

Arginina e a hormona de crescimento – Os estudos mais antigos

Num estudo publicado em 1999, 14 indivíduos do sexo masculino com experiência de treino consumiram ou 15 gramas de arginina aspartato ou um placebo por dia durante 14 dias antes de correram a maratona. No dia da prova, foram recolhidas amostras de sangue antes e depois da maratona e 2 horas após o término da prova. Os investigadores observaram que o grupo que consumiu a arginina registou aumentos nos níveis sanguíneos de hormona de crescimento, apesar de daí não ter ocorrido nenhum benefício metabólico (11).

No entanto, estudos publicados alguns anos antes não encontraram alterações na concentração sanguínea da hormona de crescimento associada ao consumo de arginina. Um estudo publicado em 1994 em que indivíduos do sexo masculino consumiram 8 gramas de arginina diariamente durante 10 dias não encontrou alterações a nível da hormona de crescimento (12).

Em 1993, a suplementação aguda com 1,2 gramas de arginina e 1,2 gramas de lisina em culturistas do sexo masculino não promoveu um aumento estatisticamente significativo nos níveis sanguíneos de hormona de crescimento durante um período de até 3 horas (13).

No mesmo ano, outro estudo testou o consumo diário de 2 gramas de arginina, de lisina e de ornitina durante 4 dias em 11 praticantes de halterofilismo sem, no entanto, encontrar aumentos nos níveis de GH (14). Alguns anos mais tarde, em 1997, um outro estudo em que também combinou 1,5 gramas de arginina com 1,5 gramas de lisina seguido de exercício físico também não encontrou aumentos nos níveis de hormona de crescimento (15).

Arginina combinada com exercício pode diminuir os níveis de hormona de crescimento?

Um estudo publicado em 2006 revelou uma descoberta interessante (16). Quando o consumo de 7 gramas de arginina se deu 30 minutos antes de uma sessão de musculação, a elevação da hormona de crescimento foi inferior àquela observada apenas com o treino de musculação.

A elevação dos níveis de GH em repouso aumentam em cerca de 100% quando a arginina é consumida. Já um treino de musculação tem a capacidade de aumentar os níveis de GH em 300 a 500% (17).

Conforme é possível observar pelo gráfico mais abaixo, o que este estudo demonstrou foi que consumir uma dose elevada de arginina seguido de um treino de musculação promove uma resposta de GH inferior àquela promovida apenas pelo treino (cerca de 200%). Curiosamente, um efeito semelhante já havia sido observado em jovens adultos num estudo publicado em 1999 após o consumo de 5 gramas de arginina (18).

Arginina e a hormona de crescimento – Os estudos mais recentes

Desde 2000, vários investigações continuaram a debruçar-se sobre esta questão da arginina e da hormona de crescimento:

Em 2005, o consumo de diferentes doses de arginina (2,8 gr vs. 5,7 gr) durante 4 semanas em atletas de endurance não promoveu aumentos a nível do GH (19).

No mesmo ano, um outro estudou reportou que doses de 5 e 9 gramas de arginina promoveram um aumento significativo dos níveis de GH em repouso em indivíduos do sexo masculino (20). Os investigadores observaram ainda que uma dose de 13 gramas provocou desconforto gastrointestinal na maioria dos participantes.

Em 2007, investigadores reportaram que o consumo de 7 gramas de arginina durante 7 dias foi ineficaz a promover o aumento dos níveis de GH e IGF-1 em adultos do sexo masculino (21).

Outro estudo publicado em 2010 no Journal of Strength and Conditioning Research reportou que o consumo de 6 gramas de arginina e 4,4 gramas de ornitina em atletas de força do sexo masculino durante 3 semanas elevou os níveis de GH e de IGF-1 (22). (Nota: a razão de combinar ornitina com arginina é para que o corpo converta menos arginina em ornitina no processo de ciclo da ureia, colocando, deste modo, mais arginina em circulação na corrente sanguínea).

Um estudo publicado em 2011 registou um aumento nos níveis de hormona de crescimento em resultado da suplementação com 10 gramas de arginina (23). Ao fim de 60 minutos, os níveis sanguíneos desta hormona ainda se encontravam elevados no grupo que consumiu a arginina, no entanto, isto não se traduziu numa maior síntese proteica muscular.

Porém, um estudo publicado no mesmo ano contrariou as descobertas do estudo anterior (24). Neste estudo, 14 indivíduos do sexo masculino fisicamente ativos consumiram ou uma pequena dose (0,075 g/kg de peso corporal) ou uma grande dose de arginina (0,15 g/kg). No entanto, nenhuma das doses promoveu aumentos dos níveis de GH ou IGF-1.

Em 2014, outro estudo também falhou em encontrar aumentos nos níveis de GH em jovens adultos do sexo masculino com experiência de treino após o consumo agudo de cerca de 6 gramas de arginina (25). Para além disso, este estudo também reportou um efeito de inibição de hormona de crescimento em resultado do consumo de arginina seguido de um treino de musculação.

Finalmente, outro estudo de 2014 também falhou em encontrar benefícios do consumo de arginina no aumento dos níveis de GH e IGF-1 (26). A dose utilizada neste estudo foi de 6 gramas e os participantes tiveram de completar duas séries de 5 km de um teste de corrida contra-relógio.

Arginina funciona?

Apesar de alguns trabalhos terem verificado que o consumo oral de arginina foi eficaz a aumentar os níveis sanguíneos de hormona de crescimento e do IGF-1, a grande maioria deles não encontrou estes efeitos (de todos os estudos realizados em seres humanos, 5 foram a favor e 10 contra).

Os estudos que também avaliaram os efeitos da arginina na síntese proteica muscular também não encontraram qualquer benefício neste campo. Além disso, a constatação de que a arginina consumida antes da atividade física parece inibir a secreção de GH ainda agrava a situação.

Um dos grandes problemas do consumo exógeno de arginina prende-se com a sua absorção. Estima-se de que cerca de 40% da arginina consumida de forma exógena seja metabolizada no intestino delgado (27). A somar a isto, ela ainda sofre a ação de enzimas conhecidas como arginases, responsáveis por converter arginina em ornitina durante o ciclo da ureia. Estes factores podem explicar o porquê de a maioria dos estudos não ser favorável à arginina.

Noutros artigos que publicaremos em breve vamo-nos focar noutros aspetos relacionados com a suplementação com arginina, como os seus potenciais efeitos vasodilatadores e o seu potencial contributo para a melhoria do rendimento desportivo.

Autor: Ta Fitness

O Tá Fitness nasceu em 2012. É um portal dedicado ao exercício físico, à alimentação e ao bem-estar.

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